Árdath/Erdath

Estava a escavar no Codex Ardmachanus informações para um artigo sobre mitologia irlandesa (um tormento encontrar a nota na biografia de Patrício em que Tírechán glosou síde com o latim dei terreni), quando me deparo com um este trecho interessantíssimo:

Nam Neel pater meus non siniuit mihi credere, sed ut sepeliar in cacuminibus Temro quasi uiris consistentibus in bello (quia utuntur gentiles in sepulcris armati prumptis armis) facie ad faciem usque ad diem erdathe (apud magos, id est iudicii diem Domini), ego filius Neill et filius Dúnlinge Immaistin in campo Liphi pro duritate odiui ut est hoc.

“Meu pai, Níall, não me permitiu aceitar a fé, porém me rogou que eu fosse sepultado nas colinas de Temair; eu, filho de Níall, e o filho de Dúnlang em Maistiu em Mag Liphi, face a face um contra o outro à maneira de homens em batalha (pois os pagãos, armados em suas tumbas, têm suas armas à mão) até o dia de árdath/erdath (como o chamam os magos, ou seja, o dia do Julgamento do Senhor), por causa da ferocidade do nosso ódio mútuo”.

Pois bem, magi (magos) são os druid (plural de drui); árdath/erdath (as duas leituras são possíveis), o nome dado pelos magos ao dia do fim do mundo (dies iudicii Domini, “o dia do juízo do Senhor”).

ard < PCelt. *ardo-: alto, elevado.

áth < PCelt. *i̯ātu-: vau (numa corrente de água, é um ponto raso o bastante para que se possa passar a pé ou a cavalo, local comum de combates nos textos mitológicos irlandeses); em sentido figurado, um espaço aberto ou vazio entre dois objetos.

Talvez os combatentes no vau elevado sejam o Fogo e a Água, como escreveu Strábon na “Geografia”.

Árdath/erdath < PCelt. *ardoi̯ātus (eni latiū ardoi̯ātous, Ir. i lá árdathe, “no dia do fim do mundo”).

Bellou̯esus Īsanos